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Riscos jurídicos do investimento anjo: o que todo investidor precisa saber antes de apostar em uma startup

  • Foto do escritor: Benites Bettim Advogados
    Benites Bettim Advogados
  • há 4 dias
  • 6 min de leitura

O investimento anjo tem ganhado destaque no cenário empresarial brasileiro, sendo uma fonte essencial de financiamento para startups e novos empreendimentos. No entanto, como qualquer tipo de investimento, ele vem acompanhado de riscos, especialmente no âmbito jurídico. Neste artigo, abordaremos os principais riscos jurídicos associados ao investimento anjo e como mitigá-los para garantir que essa prática continue sendo uma alternativa atraente e segura para investidores e empreendedores.


Riscos jurídicos do investimento anjo: o que todo investidor precisa saber antes de apostar em uma startup

Compreendendo o Investimento Anjo


O investimento anjo é uma modalidade de investimento onde pessoas físicas, geralmente empresários ou profissionais de sucesso, investem seus próprios recursos financeiros em empresas em estágio inicial. Em troca, os investidores recebem uma participação societária na empresa, apostando em seu potencial de crescimento. Além do capital, os investidores anjos frequentemente contribuem com seu conhecimento, experiência e rede de contatos para alavancar o negócio.


Apesar dos benefícios mútuos, essa modalidade de investimento não é isenta de riscos, especialmente no que tange às questões jurídicas. Entender esses riscos e como preveni-los é crucial para qualquer investidor anjo que deseja proteger seu capital e evitar complicações legais.


O ambiente jurídico brasileiro, conhecido por sua complexidade e rigor, impõe desafios adicionais ao investidor anjo. A regulamentação sobre investimentos em startups e pequenas empresas é menos consolidada em comparação a outras formas de investimento, o que pode aumentar a incerteza jurídica. Além disso, a falta de padronização nos contratos e a ausência de jurisprudência sólida sobre diversas questões relacionadas a esse tipo de investimento podem deixar o investidor em uma posição vulnerável, caso ocorra algum conflito.


Risco de Falta de Formalização Adequada


Um dos principais riscos no investimento anjo é a falta de formalização adequada do acordo entre o investidor e a startup. Muitas vezes, o entusiasmo em relação ao potencial do negócio faz com que as partes envolvidas deixem de formalizar adequadamente os termos do investimento, o que pode resultar em desentendimentos futuros.


A ausência de um contrato bem elaborado pode gerar uma série de problemas, como a falta de clareza sobre os direitos e deveres de cada parte, a ausência de definições sobre a participação societária e a indefinição de mecanismos de saída para o investidor. Além disso, a informalidade no acordo pode comprometer a segurança jurídica, dificultando a defesa dos interesses do investidor em eventuais litígios.


Para evitar esse risco, é essencial que todas as partes envolvidas recorram a advogados especializados para a elaboração de um contrato de investimento que cubra todos os aspectos relevantes do acordo, incluindo direitos de preferência, direito de saída, governança, diluição de participação e resolução de conflitos. O contrato deve ser minucioso e abordar possíveis cenários futuros, prevendo mecanismos para situações adversas, como a necessidade de capitalização adicional, mudanças na estrutura societária, ou até mesmo a venda da empresa.


Risco de Conflitos Societários


Outro risco jurídico significativo é o de conflitos societários entre o investidor anjo e os demais sócios da startup. Esses conflitos podem surgir devido a divergências na gestão da empresa, diferenças de visão estratégica ou mesmo desentendimentos sobre a distribuição de lucros.


Conflitos societários podem escalar rapidamente e, se não forem bem geridos, podem comprometer seriamente o futuro da empresa e, consequentemente, o retorno do investimento. Em muitos casos, esses conflitos resultam de expectativas desalinhadas entre os investidores e os empreendedores. Enquanto os fundadores podem estar focados no crescimento e inovação, os investidores podem ter como prioridade a rentabilidade e a segurança do capital investido.


Para mitigar esse risco, é fundamental que o contrato de investimento inclua cláusulas claras sobre a governança da empresa, definindo as atribuições de cada sócio, os processos de tomada de decisão e as regras para a resolução de conflitos. A criação de um acordo de acionistas robusto também pode ser uma medida eficaz para prevenir e gerenciar possíveis desentendimentos. Este acordo deve detalhar como as decisões serão tomadas, como os lucros serão distribuídos e como serão tratadas as questões de saída ou dissolução da sociedade.


Além disso, é recomendável que o investidor mantenha uma comunicação aberta e constante com os demais sócios, participando ativamente das discussões estratégicas da empresa, sem interferir de forma excessiva na gestão cotidiana. Estabelecer uma relação de confiança mútua desde o início pode ajudar a evitar muitos dos conflitos que surgem ao longo do tempo.


Risco de Responsabilidade Jurídica


Muitos investidores anjos não se dão conta de que, ao investir em uma startup, podem acabar assumindo, direta ou indiretamente, responsabilidades jurídicas relacionadas às operações da empresa. Dependendo da estrutura societária escolhida e do envolvimento do investidor na gestão do negócio, ele pode ser responsabilizado por dívidas trabalhistas, fiscais ou ambientais, por exemplo.


Em casos onde o investidor se envolve diretamente na gestão da empresa, ele pode ser considerado solidariamente responsável pelas obrigações da sociedade. Isso significa que, em situações extremas, como a falência da empresa, o investidor pode ser chamado a responder com seu patrimônio pessoal por dívidas da empresa.


Para evitar esse tipo de risco, é importante que o investidor escolha cuidadosamente a estrutura jurídica de seu investimento. Uma das formas mais comuns de se proteger é limitar o envolvimento direto na gestão da empresa, optando por uma posição mais passiva, ou garantindo que sua participação seja claramente delimitada em contratos, de forma a evitar a caracterização de responsabilidade solidária ou subsidiária.


Outra medida preventiva é a análise detalhada das práticas de compliance da empresa antes do investimento, assegurando-se de que a startup segue as normas legais e regulatórias aplicáveis.


Risco de Diluição da Participação


O risco de diluição da participação societária também é uma preocupação frequente para investidores anjos. Esse risco ocorre quando a startup realiza novas rodadas de investimento e emite novas ações ou quotas, reduzindo, assim, a porcentagem de participação dos investidores anteriores.


A diluição pode impactar significativamente o retorno esperado do investimento, especialmente se o investidor não estiver preparado para acompanhar as futuras rodadas de financiamento. Além disso, a diluição pode enfraquecer a influência do investidor na governança da empresa, deixando-o em uma posição menos favorável.


Para mitigar o risco de diluição, o investidor deve negociar, no momento do investimento inicial, a inclusão de cláusulas de proteção contra diluição no contrato de investimento. Essas cláusulas garantem que o investidor tenha o direito de manter sua participação percentual na empresa, podendo adquirir novas ações ou quotas a um preço pré-determinado em futuras rodadas de investimento. Além disso, é possível negociar condições especiais para futuras emissões de ações, como o direito de preferência na compra de novas ações, o que protege o investidor de uma diluição indesejada.


Risco de Falta de Liquidez


Por fim, um dos maiores riscos do investimento anjo é a falta de liquidez. Diferentemente de investimentos em ações de empresas listadas na bolsa de valores, onde é possível vender rapidamente sua participação, o investimento em startups geralmente possui um horizonte de liquidez mais longo e incerto. O investidor pode ficar anos sem conseguir vender sua participação, dependendo do sucesso da empresa e da existência de compradores interessados.


Essa falta de liquidez pode ser particularmente problemática se o investidor precisar recuperar seu capital antes do que previa, ou se a empresa não atingir o sucesso esperado. A ausência de um mercado secundário desenvolvido para a venda de participações em startups agrava ainda mais essa situação.


Para minimizar esse risco, é recomendável que o contrato de investimento inclua cláusulas que estabeleçam mecanismos de saída, como a possibilidade de venda da participação para outros investidores, a inclusão de cláusulas de tag along (direito de venda conjunta) ou até mesmo a previsão de uma venda futura da empresa. Além disso, o investidor pode negociar com os empreendedores o estabelecimento de metas de desempenho que, uma vez alcançadas, permitam a realização de uma venda parcial ou total de sua participação.


Outra estratégia para aumentar a liquidez é a diversificação dos investimentos em diferentes startups, o que pode aumentar as chances de obter retorno em um prazo mais curto, mitigando os efeitos da falta de liquidez em um único investimento.


Considerações Finais


O investimento anjo, embora repleto de oportunidades, também está cercado de riscos, especialmente no campo jurídico. Para garantir que o investimento seja seguro e rentável, é essencial que tanto investidores quanto empreendedores estejam cientes dos principais riscos envolvidos e busquem formas de mitigá-los.


A formalização de contratos bem elaborados, a escolha adequada da estrutura societária, a definição clara de governança e a inclusão de cláusulas de proteção são medidas essenciais para proteger os interesses do investidor e garantir o sucesso da parceria. Assim, o investimento anjo pode continuar sendo uma poderosa ferramenta para impulsionar o crescimento de startups, com riscos reduzidos e maiores chances de sucesso.


Além disso, os investidores devem estar preparados para um relacionamento de longo prazo com as empresas em que investem. A paciência e a visão estratégica são fundamentais para navegar pelas incertezas do ambiente de startups, onde o sucesso muitas vezes leva mais tempo do que o inicialmente planejado.


Com uma abordagem cuidadosa e bem informada, os investidores anjos podem não apenas obter retornos financeiros significativos, mas também contribuir para o desenvolvimento de inovações que impactem positivamente a sociedade como um todo.

 

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